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CINEMA E DITADURA MILITAR: A Cabeça Fria, Pensante e Política de Leon Hirszman

19/02/2015

Leon Hirszman nasceu no dia 22 de novembro de 1937, no Estado do Rio de Janeiro, filho de Jaime Hirszman e de Sarah Hirszman, judeus poloneses fugidos do nazismo. 

Ingressou nas fileiras do Partido Comunista Brasileiro (PCB) antes dos quinze anos de idade, muito influenciado pela figura e ideias marxistas de seu pai. Apesar de ter cursado Engenharia nunca exerceu a profissão.

Sua paixão pelo cinema logo surgiu e não hesitou quando recebeu o convite para tornar-se ajudante de produção do filme Rio, Zona Norte, de Nelson Pereira dos Santos de 1957. 

Junto com Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Viana Filho tornou-se um dos fundadores do CPC - Centro Popular de Cultura, da União Nacional dos Estudantes (UNE). Hirszman é considerado um dos principais expoentes do chamado Cinema Novo brasileiro. 

Como documentarista gravou as obras Maioria Absoluta (1964) Nelson Cavaquinho (1969), Partido Alto (1982), Megalópolis (1973), Ecologia (1973) e Sexta-feira da Paixão, Sábado de aleluia (1969).

 No ano de 1965 realiza a filmagem de A Falecida, baseado na obra de Nelson Rodrigues. Posteriormente grava a película Garota de Ipanema (1967), um retrato da sociedade carioca da época.  

Em 1971, ele realiza o longa-metragem São Bernardo, inspirado na história homônima do escritor Graciliano Ramos, que apesar do enorme sucesso de crítica, não conseguiu se transformar em sucesso de público em terras brasileiras.

Aqui vou me debruçar apenas sobre as duas mais conhecidas obras do cinema político brasileiro deste diretor revolucionário: Eles Não Usam Black-Tie (1981) e ABC da Greve (1979/1980). 

Na trama da película Eles Não Usam Black-Tie, Gianfrancesco Guarnieri (Otávio), o pai, é um militante político de esquerda, que entra em conflito com o filho Tião (Carlos Alberto Riccelli), dividido entre suas aspirações por uma vida pequeno-burguesa ao lado da noiva Maria (Beth Mendes) e as exigências do movimento paredista que esta ocorrendo na fábrica. Otávio é casado com Romana (Fernanda Montenegro). Nas últimas cenas do filme, Otávio e Romana catam feijões, chorosos, desolados por causa da ruptura com o filho e pela morte do amigo Bráulio (Milton Gonçalves), assassinado pela polícia. 

O ABC da Greve, filmado durante um dos maiores movimentos grevistas do país. O filme cobre os acontecimentos na região do ABC paulista, acompanhando a trajetória do movimento de 150 mil metalúrgicos em luta por melhores salários e condições de vida. Sem obter êxito em suas reivindicações, decidem-se pela greve, afrontando o governo militar vigente.

Os militares respondem com uma intervenção no Sindicato da categoria. Mobilizando numeroso contingente policial, o governo inicia uma grande operação de repressão. Sem espaço para realizar suas assembleias, os trabalhadores são acolhidos pela igreja. Passados 45 dias, patrões e empregados chegam a um acordo. 

Mas o movimento sindical nunca mais seria o mesmo e seu maior expoente, o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva chegaria a presidir o Brasil por dois mandatos consecutivos. 

O Governo do General Ernesto Geisel (1974 – 1979) prometia uma transição para a democracia que seria lenta, gradual e segura. Este período se caracteriza por uma crise política e econômica, era o fim do chamado Milagre Econômico.

Nas cidades há o ressurgimento do Movimento Estudantil e nas zonas rurais reaparecem os movimentos de camponeses surgindo em todas as partes do Brasil

Nas principais cidades começa a surgir o Novo Sindicalismo e os movimentos paredistas se espalham pelas principais áreas industriais do país.

Na região do Sul do Pará surge a Guerrilha do Araguaia (1967-1974). Movimento de luta armado e orientado pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B) que enfrentará as forças militares em favor dos camponeses e trabalhadores do campo.

Durante o mandato de Geisel ocorreu a morte do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, no DOI-CODI em São Paulo. Herzog foi encontrado enforcado dentro de sua cela e os militares sustentaram a tese de suicídio. As fotos do periodista morto circulou o mundo e contribuiu para enfraquecer o já desgastado regime militar. 

Estas duas obras de Leon Hirszman foram gravadas no período da Ditadura Militar brasileira do Governo do General João Baptista de Oliveira Figueiredo (1979 – 1985). Apesar de alguns avanços para a transição democrática como o processo de Anistia de brasileiros exilados e o fim do bipartidarismo. 

Legalmente havia dois partidos políticos. A Arena (Aliança Renovadora Nacional), formado por representantes conservadores aliados que davam sustentação política ao governo militar e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) que aglutinava grande parcela da oposição aos militares. 

As repressões às greves foram constantes e o setor conhecido como ala dura dos militares cometeu o Atentado no Rio Centro no Dia do Trabalhador em 1981 na cidade do Rio de Janeiro.

Neste período cresce a força do movimento Diretas Já!, que pedia a eleição direta para a presidência da República. Infelizmente, a eleição de 1985 foi de forma indireta, elegendo Tancredo Neves que faleceu semanas depois e assumindo seu vice, o senador maranhense José Sarney. 

Os últimos anos da vida de Hirszman foram dedicados ao projeto Imagens do Inconsciente (1983-1986), uma série de três documentários sobre três artistas esquizofrênicos do Centro Psiquiátrico Pedro II do Rio de Janeiro, dirigido pela psicanalista Nise da Silveira. O trabalho foi concluído em 1986.

A obra de Leon Hirszman é um registro histórico do século XX no Brasil. A sua filmografia deve ser visitada pelos mais jovens e revisitada pelos que viveram estes períodos da História brasileira. Somente desta forma, homenageamos o artista, o ativista, o militante e assim, continuamos a soprar as brasas da fogueira da memória para que ela teime em arder e sirva como farol para o diálogo e a verdadeira democracia.       

Leon Hirszman foi mais uma vítima da AIDS que contraiu durante uma transfusão de plasma sanguíneo, depois de quase um ano de tratamento, faleceu no dia 16 de setembro de 1987, no Rio de Janeiro. 


Sidney Barata de Aguiar: Mestre em História Social pela UFAM. Professor da Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino do Estado do Amazonas (SEDUC/AM) e Secretaria de Educação do Município de Manaus (SEMED). Secretário de Formação do SINTEAM.   


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