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Transamazônica e Iracema: Um contraste na estrada da Ditadura Militar no Brasil

06/03/2015

*Por Sidney Barata de Aguiar

Iracema, uma Transa Amazônica foi produzido em 1974 por Jorge Bodanzky, Orlando Senna e Wolf Gauer. A película se propõe a ser um contraste com a propaganda oficial da Ditadura Militar brasileira, instaurada desde 1964.

Os generais divulgavam um país moderno e em expansão e sua maior obra seria a construção da Transamazônica ou BR-230.

A história narra o encontro de Tião Brasil Grande (Paulo César Pereio) e a jovem Iracema (Edna de Cássia). Tião Brasil Grande era um motorista de caminhão que transportava madeira na cidade de Belém do Pará. Este caminhoneiro sulista conhece Iracema em um bordel. A menina cabocla tentando fugir da miséria resolve se prostituir durante a Festa de Círio de Nazaré na capital paraense e aceita o convite de Tião para uma aventura.

Os dois começam um trajeto pela Transamazônica na boleia do caminhão. Durante a viagem é apresentado ao telespectador todas as mazelas sociais da região amazônica de forma bem contundente.

O desmatamento e as queimadas da floresta amazônica, o comércio ilegal de madeira nobre, o trabalho escravo e infantil, a prostituição de menores de idade, a grilagem de terras e o abandono do agricultor, contrastando com a publicidade oficialesca do regime ditatorial vigente. 

A Amazônia sempre foi vítima de inúmeros projetos míopes para a região.

A construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré no início do século XX na região que hoje está localizado o Estado de Rondônia. Centenas de trabalhadores perderam a vida nesta empreitada e os trens não percorrem mais seus trilhos.

A chegada de Getúlio Vargas ao poder central significou o final da República Velha (1930) e também se intensificou o debate sobre os trabalhadores rurais e processos de colonização. A migração Nordeste-sudeste deveria ser desestimulada.   

Getúlio Vargas em seu Discurso do Rio Amazonas (1940) alardeava que todos os olhos da nação estavam voltados para um novo marco histórico que a Amazônia entraria.

As teorias da chamada ocupação do Espaço Vazio foram colocadas em prática na hinterlândia amazônica em dois momentos. A Marcha para o Oeste que traria os nordestinos para Goiás e Mato Grosso, incluindo também a Amazônia. E posteriormente, uma política de mobilização de trabalhadores durante a Batalha da Borracha.

Com a assinatura dos Tratados de Washington em plena II Guerra Mundial (1939-1945), os países aliados investiram no ressurgimento da produção da borracha nativa para o combate ao nazi-fascismo.

O governo ditatorial militar (1964-1985) também defendeu essa ocupação, sob o lema Integrar para não Entregar. E dentro destas perspectivas, estava a preocupação de insurgências guerrilheiras que começavam a eclodir no interior do Brasil, vide a experiência da Guerrilha do Araguaia (1967-1974) no sul do Pará.

A Transamazônica ou BR-230 teve sua pedra fundamental fincada no governo do General Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e seu trajeto inicia-se no município de Cabedelo no Estado da Paraíba. No projeto inicial desta "obra faraônica" constava que a rodovia ligaria o Brasil ao Oceano Pacífico, atravessando o Peru e o Equador.

O INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) criou centenas de colônias e agrovilas por quase toda a extensão da estrada.

Colonos de todo o Brasil, principalmente da região sul do país fixaram moradia, que aos poucos foram sendo desassistidos pelo governo federal.

Atualmente, nos seis meses do chamado verão amazônico, a estrada está repleta de buracos, poeira e pontes de madeira improvisadas.

E durante os seis meses do inverno, a rodovia torna-se intransitável. Quem se aventura a percorrer a estrada neste período enfrenta chuvas torrenciais e muita lama.

 Hoje discussões ambientais acirradas complicam o asfaltamento de uma grande parte desta estrada.

Para nós amazônidas, só resta à condição de reféns do transporte fluvial e aéreo que nos liga ao restante do Brasil.

Mesmo depois de quatro décadas, continuamos "ilhados" no meio da floresta e os problemas sociais mostrados no filme, infelizmente, continuam fazendo parte da realidade da Amazônia. 

*Sidney Barata de Aguiar: Mestre em História Social pela UFAM. Professor da Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino do Estado do Amazonas (SEDUC/AM) e Secretaria de Educação do Município de Manaus (SEMED). Secretário de Formação do Sinteam.

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